sábado, 20 de agosto de 2011

Shhhh!

Estava pensando no dia em que o ex-presidente Lula foi vaiado no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Lembrei da minha reação, de alguns blogs comentando o ocorrido, de um antigo amigo que passou a ter muita raiva de mim quando soube que eu gostava do Lula (não consigo entender essas coisas).

De repente, conversando com meu teclado, pensei: "Se o público tivesse ficado em silêncio total, principalmente após o Lula ter anunciado oficialmente as aberturas dos Jogos Pan Americanos, o efeito seria muito mais devastador que as vaias". Digo isso porque, não há dúvidas, o Lula teria ido até aquele microfone e anunciaria "Estão abertos os Jogos Rio 2007", no lugar de Carlos Arthur Nuzman, caso o coro não tivesse seu lugar naquele instante.

O silêncio é muito
mais atraente e desejoso
de ser explorado do que a vaia. Mas não
se deixe enganar: ele é bem diferente do que parece.

As vaias não foram bonitas. O meu tal "ex-amigo" disse que estava lá, que vaiou muito e que xingou muito! Mas se ninguém tivesse expressado aquelas vaias, pensando bem, seria terrível para qualquer ser humano.

Os barulhos e os sons acontecem e evidenciam-se. Mas o silêncio e discreto, é quieto, é desconcertante. Ninguém espera que uma discussão movida pelas paixões tenha o silêncio como reação. Aliás, ele é a própria ardilosidade humana, calculada e friamente presente em forma de ausência. Que ausência? De som.

O silêncio é que nem a saúde: só é percebido quando falta. Contudo, não quero que alguém saia daqui pensando "Ah, então o som é que nem a doença"! Aí já é outra coisa.

Jericó foi conquistada com
muito barulho. Trombetas soaram
por dias e gritos derrubaram muralhas.
Não é de hoje que a humanidade grita e esperneia para expressar o que sente, o que pensa, o que quer. Essa é uma técnica muito eficiente de conquista, até mesmo de guerra. Os leitores da Bíblia conhecem bem esse poder, assim como os políticos. Não apenas a palavra tem poder, mas o som em si é que dá poder às palavras.

E se a humanidade, por algum tempo (1 dia talvez), resolvesse dar mais valor ao silêncio... Seria o caos?

Vou reservar outro momento para falar mais a respeito do silêncio, essa não-coisa sobre a qual deve-se calar. Mas vou continuar imaginando, desde já, quais seriam as reações da imprensa brasileira e do mundo, caso o Lula fosse recebido com silêncio, ao invés de meras vaias, tão feias e tão caricaturalmente brasileiras, assim como faziam os "Homens de Atenas", quando assitiam ao saudoso teatro grego antigo.

5 comentários:

  1. Interessante dizeres que o silêncio é uma não-coisa e som, portanto, é a coisa. Contudo, mesmo no silêncio há som, diferente e difícil de ser alcançado. Uma voz do silêncio, por assim dizer.

    No caso da vaia ao Lula, o silêncio poderia ter sido pior, sem dúvidas. Mas o mesmo silêncio que representa uma indiferença, mesmo uma "educada" repreensão, pode ser interpretado como deferência, respeito. Eu, concordando contigo, preferiria o silêncio a balbúrdia.

    E igualmente sou a favor do maior valor ao silêncio. O que vejo mais crescer atualmente, é a quantidade de fala, de som, de barulho. É raro travar uma boa conversa quando uma parte ouve e a outra escuta. E quando digo ouve, escuta de verdade, tentando captar a mensagem do outro. Por que a voz não quer falar, a boca não quer parar e a mente não quer entender.

    Seria sem dúvida muito bom que valorizássemos mais o silêncio. Pois nele há sabedoria e humildade.

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  2. Silêncio, para mim, é sinônimo de indiferença. Realmente, é muito desconcertante para quem o recebe. Eu aprendi a fazer isso. Machuca muito mais também... É paia, de certa forma. Não faça silêncio se não tiver noção da arma que está usando. Quem o recebe não sabe se é indiferença, se vc tá concordando ou não, se vc tem alguma opinião a respeito... Vc realmente consegue usar o silêncio pra ferir mais e provocar, quem sabe, uma neurose no outro... No entanto vc está, ao mesmo tempo, se omitindo. Claro q silêncio em grupo n seria nunca sinônimo de omissão, mas de desaprovação.

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  3. Drill tem razão ao tratar o silencio como desconcertante, traiçoeiro, duvidoso e dolorido.
    A natureza é prefeita mesmo, nos deu dois ouvidos e uma,(1)boca apenas. Algum sentindo tem nisso. Silencio...
    Sempre ouvir mais do que falar.

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  4. Eu adoro o silêncio. Como sou muito observadora e não tenho total controle sobre isso, apesar de tentar, o excesso de barulho me deixa as vezes exausta. Penso que só consigo respirar quando estou em silêncio. Parece que a minha vida caminha quando o silencio se faz presente. AS ideias fluem e eu posso me escutar.

    Quanto ao episódio do nosso ex-presidente, eu acredito que só nos manifestamos quando nos importamos. Observermos no nosso dia a dia(tem hifen ou não?) quando gostamos de alguém, qualquer atitude dela, seja positiva ou negativa aos nossos olhos, nos causa algum sentimento, seja raiva, odio, orgulho, indignação, desejo, enfim.

    Aplausos e vaias são manifestações de algum sentimento. O silêncio também é, e pode simplesmente significar: "estou do seu lado." Partindo da ideia que a comunicação não se baseia apenas na fala, o silêncio pode não dizer nada e pode dizer tudo. Não se engane, o olhar falar ah e como falar. Será que em nenhum momento de suas vidas falou algo que não era o seu desejo e o seu corpo o traiu? E o pior: foi descorberto. Fica a dica: se o silencio pairar em alguma situação observe outros detalhes como o olhar, o sorriso, as mãos, o corpo. Talvez você descobra que o silencio não é uma arma e sim um medo de falar, ou vergonha.

    Laura Costa, a tagarela silenciosa.

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  5. obs "Não se engane, o olhar fala ah e como fala."

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