Quando ingressei no curso de Filosofia, tive a sorte, felicidade e graça de ter, na primeira semana de atividades, assistido à aula de um grande homem, por quem tenho grande admiração até hoje: o prof. Custódio, da UFC. No momento em que escrevo este artigo, ele é Pró-reitor de Graduação. Por causa disso, quase não o vejo mais. E foi naquele primeiro encontro com a turma que ele falou sobre um mito que sonhei na última noite, e acordei querendo me lembrar o que era exatamente. Recordei e decidi falar sobre ele rapidamente aqui no TextoBrando.
Não sou especialista em Heidegger. Ainda não sei se gosto dele. Vou falar tudo de um jeito muito vago e breve.
O mito está presente na obra Ser e Tempo. Se não me engano, não foi Heidegger quem contou esse mito originalmente, ou o inventou, ou fingiu ter pego de algum lugar. Parece que era contado em algum lugar já, há muito tempo. Mas não me lembro agora. Vocês podem procurar por aí.
Lembro-me de alguém ter dito que se chamava Mito do Cuidado. Ou Mito do Homem. Ou mito da Cura. Leiam, interpretem. É breve, mas parece querer dizer muito (retirei o texto abaixo daqui, que afirma se chamar Mito da Cura).
Certa vez, atravessando um rio, Cuidado viu um pedaço de terra argilosa: cogitando, tomou um pedaço e começou a lhe dar forma. Enquanto refletia sobre o que criara, interveio Júpiter [Zeus]. Cuidado pediu-lhe que desse espírito à forma da argila, o que ele fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse dado o seu nome. Enquanto Cuidado e Júpiter disputavam sobre o nome, surgiu também a Terra, querendo dar o seu nome, uma vez que havia fornecido um pedaço de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno [Cronos/Tempo] como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu eqüitativa: "Tu, Júpiter, por teres dado o espírito, deves receber na morte o espírito, e tu, Terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo. Como, porém, foi Cuidado quem primeiro o formou, ficará sob seus cuidados enquanto ele viver. Como, no entanto, sobre o nome há disputa, ele deve se chamar Homem, pois foi feito de "humus" (terra fértil).
Seria o Cuidado o que costumamos chamar de vez em quando de Anjo da Guarda? É claro, dá pra pensar muita coisa sobre esse mito. Eu acho bonito. É bacana. Deve dar um trabalho enorme interpretá-lo.
Resposta rápida (estou no trabalho ainda).
ResponderExcluirMuito boa a postagem. Acredito que seja o mito do Cuidado mesmo, da ideia do cuidado. Ainda que seja da criação do ser humano, ele, o homem, embora importante não é o protagonista da mito.
Muito legal essa percepção do que mais tarde viriamos a chamar de "Anjo da Guarda". Alguns conceitos estão tão enraizados por conta de nossa cultura predominantemente católica, que é deveras interessante ver como os outros povos enxergavam certos conceitos e situações que hoje vemos como certas, como já "existentes".
Muito bom o mito da Curra.!!!
ResponderExcluirGabriel
ResponderExcluirO entendimento de CUIDADO no pensamento de Heidegger, diz respeito ao ser autêntico, ou seja, aquele que não vive de pensamentos inacabados, de outros.
Heidegger faz uma distinção entre o ser do homem, que chamará Dasein (Ser aí), do ser das coisas, cujas estruturas e propriedades serão diferentes. Nesse contexto,o homem se projeta sempre mas é "Ser no mundo", não é um ser isolado e isto torna a factibilidade na qual se desenvolve a existência dele.
O ser no mundo está constituído por projetos, envolvido na relação com os outros e com os objetos.
No caso da existência ser uma fuga ante si mesmo, é não pensar no próprio ser, deixando-se levar pelas pessoas e as coisas É o que Heidegger denomina existência inautêntica e se caracteriza pela superficialidade,o anonimato, a mediocridade.
Pelo contrário, a existência autêntica se consegue rompendo esse modo inautêntico, tendo como objetivo outras possibilidades que vão acompanhadas com uma crise na vida. Isto se leva a cabo com um ato de liberdade, que consiste em aceitar a realidade da morte.
A morte é o determinante das possibilidades do ser e revela, ante o DASEIN, o nada.
O homem autêntico revela que seu ser é nada e mediante um esforço heróico, ele cuida de sua própria existência. EXATAMENTE aí é que está o entendimento de CUIDADO.
Mediante o cuidado, o homem se antecipa sobre sua realidade atual e se arroja para a realização de projetos futuros. É o que eu sempre dizia para vocês, o futuro em Heidegger é ANTECIPAÇÃO.
Heidegger sustenta que ante a realidade do nada, o homem experimenta o sentimento de angústia e será a falta de objeto o que situará a angústia frente ao nada.
Na existência inautêntica se recusa a angústia e na autêntica a angústia é situada como centro da existência.
Portanto, a morte é a chave do viver autêntico e permite ao homem adquirir lucidez, ao saber que a morte é o determinante de suas possibilidades.
Marco Antônio Abreu Florentino
Gabre, bom dia
ResponderExcluirGostei mais da ideia do Cuidado como um anjo da guarda... Nessa linha, devo ter uma legião de cuidados rsrsrs
Cara, depois de ler o post, e o comentário do seu Marco Antonio...
ResponderExcluir"Portanto, a morte é a chave do viver autêntico e permite ao homem adquirir lucidez, ao saber que a morte é o determinante de suas possibilidades."
Eu só lembrei do Steve Jobs...
"Remembering that you are going to die is the best way I know to avoid the trap of thinking you have something to lose."
Muito bom o post.